Desculpe o clichê, mas preciso falar de " Para sempre Alice"



Estava resistente em assistir esse filme, não sei ao certo o motivo, não sou nenhuma cinéfila, tudo que tem à ver com sentimentos e emoções, me prendem, gosto desses filmes que me capturam de certa forma e me envolvem no enredo da história, e ' Para Sempre Alice' é esse filme, creio que não tinha assistido um filme que falasse de forma tão real e profunda sobre uma doença tão séria como o alzheimer, é um assunto delicado, Julianne Moore teve uma alta responsabilidade e honrou tal, entrou no personagem, trazendo para nós o real sentimento de alguém que sofre com esse mal.
A sensibilidade de encarar uma história como essa que se repete no mundo todo, de uma forma tão sutil e forte é incrível, os detalhes fizeram a diferença,a personagem principal tentou encarar tudo de forma muito racional, planejando até acabar com a própria vida, mas ficou bem claro que não há racionalidade que resista ao mal de alzheimer, mas a decisão racional daquela mulher era embasada em um futuro incerto, e que a morte seria menos dolorosa, do que perder-se para sempre, e a cada dia se reconhecer menos ainda.
Chorei durante quase todo o filme, a aflição, você vê de repente uma mulher brilhante, escritora e professora ser consumida  pela doença, isso me levou á conclusão que somos as nossas memórias e conhecimentos, foi tão doloroso, ver Alice Howland (Julianne Moore) praticamente desaparecer cena à cena, cada vez mais ela estava mais perdida, desesperada e triste, até que a tristeza sumiu e deu lugar a uma indiferença que eu não tinha visto ainda, a incapacidade de armazenar informações, tornou aquela mulher independente e poderosa, aquela mãe de família, em um receptáculo furado,  vazio, aos poucos Alice estava desaparecendo, ou abrigando-se em algum outro lugar que vai além da nossa compreensão, a reação da família mediante as transformações no comportamento de Alice também nos surpreende, mas livre de julgamentos, alguns deles acreditam na cura, outros vão se distanciando aos poucos como se realmente estivessem sendo apagados da vida dela, com uma incapacidade de lidar com a situação, há ainda quem se aproximou como sua filha Lydia (Kristen Stewart),  que mesmo contudo aquilo mesmo que sua mãe não enxergasse e nem lembrasse mais de nada, creio que ela tomou a seguinte consciência, que mesmo sua mãe não lembrando de nada e de ninguém, mas ela como filha lembrava de Alice e a amava e sempre iria acreditar que Alice ainda e sempre estaria lá, umas das cenas mais emocionantes do filme foi o ultimo discurso que Alice fez, incentivada por sua filha Lydia  a falar como se sentia, derramou sentimentos diversos como uma explosão para dentro dos telespectadores, de dentro de Alice para dentro de nós:


“A poetisa Elisabeth Bishop escreveu: ‘A arte de perder não é nenhum mistério; tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério’. Eu não sou uma poetisa. Sou uma pessoa vivendo no estágio inicial de Alzheimer. E assim sendo, estou aprendendo a arte de perder todos os dias. Perdendo meus modos, perdendo objetos, perdendo sono e, acima de tudo, perdendo memórias.
Toda a minha vida eu acumulei lembranças. Elas se tornaram meus bens mais preciosos. A noite que conheci meu marido, a primeira vez que segurei meu livro em minhas mãos, ter filhos, fazer amigos, viajar pelo mundo. Tudo que acumulei na vida, tudo que trabalhei tanto para conquistar, agora tudo isso está sendo levado embora. Como podem imaginar, ou como vocês sabem, isso é o inferno. Mas fica pior.
Quem nos leva a sério quando estamos tão diferentes do que éramos? Nosso comportamento estranho e fala confusa mudam a percepção que os outros têm de nós e a nossa percepção de nós mesmos. Tornamo-nos ridículos. Incapazes. Cômicos. Mas isso não é quem nós somos. Isso é a nossa doença. E como qualquer doença, tem uma causa, uma progressão, e pode ter uma cura. Meu maior desejo é que meus filhos, nossos filhos, a próxima geração não tenha que enfrentar o que estou enfrentando. Mas, por enquanto, ainda estou viva. Eu sei que estou viva. Tenho pessoas que amo profundamente, tenho coisas que quero fazer com a minha vida. Eu fui dura comigo mesma por não ser capaz de lembrar das coisas. Mas ainda tenho momentos de pura felicidade. E, por favor, não pensem que estou sofrendo. Não estou sofrendo. Estou lutando. Lutando para fazer parte das coisas, para continuar conectada com quem eu fui um dia. 
‘Então, viva o momento’, é o que digo para mim mesma. É tudo que posso fazer. Viver o momento. E me culpar tanto por dominar a arte de perder. Uma coisa que vou tentar guardar é a memória de falar aqui hoje. Irá embora, sei que irá. Talvez possa desaparecer amanhã. Mas significa muito estar falando aqui hoje. Como meu antigo eu, ambicioso, que era tão fascinado em comunicação. Obrigada por essa oportunidade. Significa muito para mim.”  Alice

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